Os Índios Kariris
Cariri é a designação da principal família de línguas indígenas do sertão do Nordeste do Brasil.
Vários grupos locais ou etnias foram ou são referidos como pertencentes
ou relacionados a ela. Na literatura especializada, existe uma larga
discussão sobre os pertencimentos dos grupos indígenas do sertão à
família cariri ou a outras famílias como a tarairiu. Além dessas, existem várias línguas isoladas na região (yathê, xukuru, pankararu,proká, xokó, natu etc.) Historicamente, os grupos indígenas da região aparecem denominados de modo genérico como tapuias, podendo ser vinculados ao tronco linguístico macro-jê.
*Dona Tereza Kariri, Bida Jenipapo-Kanindé,
Cacique Pequena Jenipapo-Kanindé, Fernando Tremembé e Jamille Kariri.
Participantes do II Encontro do Povo Kariri, realizado em Crateús -
Ceará, em junho de 2007.
Família linguística
Apesar de comprovadamente presente em todo o semiárido nordestino,
apenas quatro das línguas cariris chegaram a ser minimamente descritas,
todas elas da região ao sul do rio São Francisco: o dzubukuá, falado por grupos no arco do submédio São Francisco (entre o que é hoje Petrolina e Paulo Afonso; o kipea, falado por índios que se tornaram conhecidos como quiriris (ou Kiriri) principalmente na bacia do Itapicuru, Bahia; e o camuru (ou cariri) e o Sapuiá, de duas aldeias próximas na região de Pedra Branca (bacia do Paraguaçu), também na Bahia.
Os Sertões dos cariris
Toda a região marcada pela presença dos cariris e pela Guerra dos Bárbaros tem isto hoje muito distintivamente assinalado em sua toponímia, no extenso arco de serras dos Cariris Velhos e dos Cariris novos, respectivamente nas divisas entre Paraíba e Pernambuco e entre Paraíba e Ceará; na região do Cariri, a sudoeste de Campina Grande (também uma antiga missão de índios), na Paraíba, e, famosamente, no Vale do Cariri, que ocupa toda a bacia do Alto Jaguaribe, no sul do Ceará.
Kariris atuais
Vários grupos indígenas contemporâneos no Nordeste reivindicam
ascendência dos cariris históricos. Entre eles, podemos citar: os Kiriri, kaimbé, tumbalalá e pataxó-hã-hã-hãe, da Bahia; os kariri-xokó, karapotó, tingui-botó, aconã, wassu-cocal e xukuru-kariri, de Alagoas; os truká, pankará e atikum, de Pernambuco; e os Kariri, do Ceará e Piauí.
Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto: O som que veio da roça e dos Cariris.
José
Lourenço da Silva, índio Cariri do Ceará, possuía a alcunha de Aniceto e
conhecia o Pife havia tempos. Fundou a Banda Cabaçal Irmãos Aniceto
ainda no século XIX.
Foi
ouvindo o pai tocar que os filhos aprenderam. Raimundo, Antônio José,
João José, Benedito e Cícero tocam adiante hoje a banda. (Cabaçal é
sinônimo de banda de Pife naquela região do país).
Os
integrantes levam a tradição familiar adiante e ensinam os parentes
próximos. Segundo o filho Raimundo, já tem gente da quarta geração da
banda tocando. Recentemente criaram a banda-mirim, com as crianças que
já demonstram incrível talento.
Raimundo
fabrica os instrumentos do grupo, que já tocou no exterior apresentando
a cultura do Pife. As apresentações do grupo incluem danças incríveis,
com agilidade impressionante, apesar da idade avançada de alguns dos
integrantes.
O
jornalista Pablo Assumpção escreveu um livro chamado “Anicete – quando
os índios dançam” que diz que a banda reúne “atores que desempenham uma
performance única e que mescla o passo matreiro e intuitivo de cada um
com modos ancestrais de dançar e imitar animais, aprendidos com as
gerações indígenas da família. É essa performance que evolui em danças e
trejeitos bem particulares que os diferencia de qualquer outra banda.
Uma espécie de ritual secular que apresenta a força das coisas inéditas”.
Homem simples da roça, seu Raimundo deu entrevista à página virtual Overmundo Aqui estão alguns trechos:
“Foi meu pai quem me ensinou como os índios dança. Meu pai ensinou o Corta Tesoura, o Pula Cobra, o Trancelim…
A
gente toca pra tudo, a gente toca pra igreja, a gente toca em
procissão, nós temos nove noites de novena, em capela a gente toca, em
renovação, toca em casamento, pra batizado, aniversário… Nós toca pra
tudo, até pra quem já morreu…
Rapaz, eu tenho um comerciozinho,
é fraquinho, é só comércio de farinha e goma. Tá fraco, não tem mais
comércio não, tá fraquinho. Cinco horas da manhã eu tô armando a
barraquinha na feira, fico até cinco horas da tarde, é o dia todim…
A música não sustenta não. A
gente ama a música que a gente aprendeu, mas pra viver não dá não. A
maior força da gente é a roça, a cultura. Os cachê é pouquinho, não dá
pra sobreviver não. Um cachê da banda vai todim. A roça é a maior força
da gente…
A roça era na terra dos outros. Nós não tem terra não. Nós pega um pedacinho de terra e planta na terra dos outros.Mas
trabalhar na terra dos outros é fraco, viu? Porque a gente não tem
condições de comprar um pedacinho de terra pra trabalhar, aí é o jeito
trabalhar na terra dos outros”.
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